Em Busca do Eu com Seventeen • Performance Team

Decidi analisar os dois últimos singles do Performance Team do Seventeen, “My I”, da China line, e “Lilili Yabbay”. Primeiramente porque gostei bastante de ambas, e depois porque percebi uma conexão entre elas muito interessante. As músicas fazem parte do “2017 Seventeen Project”, que é, como diz o nome, a reunião de todos os releases do grupo durante o ano:

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Nessa imagem podemos ver que “Lilili Yabbay” (parte do Chapter 0.5) é uma prequel para “My I” (do Chapter 1), e portanto é por ela que começo esse post.

A faixa fará parte do álbum “TEEN’AGE”, ato que encerra o “2017 Seventeen Project”. O título gerou muitas especulações sobre seu significado, com pessoas afirmando que “Lilili” era uma referência à lírios, e “Yabbay” significava “branco” em mandarim. Enquanto “Lilili” realmente faz algum sentido (sem falar na formação linda de flor de lótus logo no início do vídeo), branco em mandarim é apenas “bai”, e a palavra “yabbay” não faz muito sentido em nenhuma língua. Porém, isso me fez encontrar algo muito mais interessante:

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Aí sim está uma explicação plausível E incrível para o nome. Sinceramente, as pessoas que projetaram isso são geniais, transformar letras e números em palavras que soam bem quando cantadas é uma obra de arte.

Por falar em obra de arte, o MV de “Lilili Yabbay”, apesar de algumas falhas técnicas (a filmagem as vezes corta integrantes e partes da coreografia, que deveria ser o foco principal do vídeo), se assemelha muito à uma performance artística.

Gravado em Nova York, na frente do Brooklyn Borough Hall, o grupo começa a dançar com figurantes ao redor:

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Mas durante a maior parte do vídeo o foco é apenas na coreografia impecável:

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Quando os integrantes fazem o movimento de um relógio, finalmente o plano se abre e vemos os figurantes ao redor do grupo:

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15.PNGControlados pelo tempo?

A letra, escrita por Woozi, Dino (o único dessa unit) e Bumzu, fala sobre encontrar alguém:

Você vive nos meus sonhos
A bonita você
Me balança e vai embora
Eu espero que você me aguarde
Eu olho para a lua e rezo por você
Peço para que olhe por você

Seus movimentos
São muito significativos
Eles abrem o momento em que só nós dois podemos existir
Se isso pudesse acontecer
Sim, apenas se isso pudesse acontecer
Eu te desenharei

O título coreano da faixa é “13월의 춤”, ou “Dança do 13º mês”, como diz o refrão:

Dança do 13º mês
Para você Lilili Yabbay

No calendário chinês, que até hoje é utilizado em comemorações tradicionais e de onde derivam outros calendários lunares (como o coreano), os anos com 12 meses são anos comuns (com 353~355 dias), e os anos com 13 meses (383~385 dias) são chamados de anos longos. Coincidentemente, o ano de 8 de fevereiro de 2016 a 27 de janeiro de 2017 foi um deles.

De janeiro à dezembro
Toda vez que me viro, estou sempre à sua procura
Nosso encontro no mês 13 acontecerá
Não podemos nos trancar nas 4 estações
Apenas siga o fim da linha que desenhei com a primavera

O Ano Novo Chinês, que tem a data geralmente igual ao Ano Novo Lunar coreano (só é diferente a cada 24 anos) marca o início da primavera, e termina no último dia do inverno.

Suas lágrimas se transformaram em neve branca
Fazendo ondas de sentimentos entre nós

“Lilili Yabbay” é uma canção sobre separação e reencontro, um acontecimento pontual e específico.

Espero dançar sob a luz do luar
Você é tudo que vejo diante dos meus olhos
Somente na sua frente, no mês 13, naquele lugar
Eu vou dançar

2017 marca o início do Seventeen Project, uma nova fase para o grupo, assim como as comemorações de Ano Novo. “Lilili Yabbay”, sendo uma prequel, sinaliza o início disso tudo. Faz sentido que o vídeo termine com todos deitados imóveis sobre o chão:

16.PNGToda nova fase é uma transformação.

Um outro fator que causou controvérsias entre os fãs é a maquiagem exagerada dos integrantes. Eu acredito que foi uma escolha totalmente intencional. A maquiagem carregada e branca é uma característica de figuras teatrais/performáticas, como mímicos, pierrots, e até as máscaras do teatro Noh.

Aliando-se ao fato de que eles estão vestidos de branco, uma cor que representa a morte e a pureza para os chineses, o Performance Team se posiciona como uma tela em branco para sua arte:

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O foco de “Lilili Yabbay” não é na beleza dos rostos, nem dos corpos, e sim no movimento, na dança que expressa emoções e conta uma história. Uma pantomima que representa um ritual de transformação e busca.

Mas qual é o objetivo dessa busca?

“My I” talvez ofereça mais questões do que respostas.

Jun e The 8, chineses e parte do Performance Team, se encontram em um palco escuro, quase teatral, onde o único foco são seus corpos—vestidos de preto e branco, como no yin-yang—e dançam conectados por uma fita, que muito me lembra o fio da vida da mitologia grega:

Strudwick-_A_Golden_Thread.JPGJohn Melhuish Strudwick – A Golden Thread

4.PNGA letra, escrita pelos dois, faz menções sobre um outro eu, que atrai e repele, confunde e soluciona. Na dança, os movimentos também expressam muito bem essas contradições:

Na neblina, aparecendo e desaparecendo repentinamente
Uma silhueta que é desconhecida e familiar ao mesmo tempo
Essa silhueta é imprevisível
Flutuando, desaparecendo, rindo

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Me afastando, me atraindo
Acenando, como se estivesse aqui
Me conte sobre isso
Se há um outro mundo
Você poderia ser um outro eu?

10.PNGDurante um fansign, The8 respondeu que eles se inspiraram realmente na possibilidade de haver um outro eu, e nas consequências de encontrar essa pessoa. Porém, o que é mais interessante para mim é que, de fato, há um outro eu dentro de todos nós:

A Sombra

Na psicologia junguiana, a Sombra é o aspecto mais escuro do nosso ego: a parte que esconde nossos instintos e desejos mais profundos, muitas vezes não aceitos pela sociedade (e nem por nós mesmos). Porém, ela é necessária e indissociável do nosso ser, pois é responsável pela criatividade, emoções profundas e insights.

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Quando as asas em minhas costas vão se abrir?
Somente quando o vento soprar?
Quando eu fecho meus olhos, quando eu respiro profundamente
Não há como escapar da minha própria sombra
Não sei o que fazer, insociável na tristeza de cada dia

O encontro com a sombra é um passo importante para esse ramo da psicologia. Não devemos necessariamente nos identificar com ela, mas aceitar sua existência, trazê-la para a luz. É um processo difícil e constante, mas muito recompensador. A letra, mais uma vez, reflete isso:

Me aproximando de você passo a passo
O caminho a seguir é cheio de espinhos
Estenda seus braços, estou aqui na sua frente

7.PNG

Hey
Nós vamos nos conhecer, não anseie por mim
Eu saberei (eu sou seu futuro)
Eu saberei (você é meu passado)
Eu saberei (eu vou te proteger)
Eu saberei (por favor não me abandone)

Também acho interessante que, na versão coreana, os versos mudam um pouco:

Hey
Quando eu te encontrar depois de um tempo
Eu saberei (você era meu futuro)
Eu saberei (eu era seu passado)
Eu saberei (você me protegia)
Eu saberei (eu te desejava)

E essa leve alteração nos dá mais uma perspectiva. É como se as duas letras conversassem entre si, e fossem cada uma um mundo diferente que se encontra na mesma melodia.

Como mencionei no início do texto, o yin-yang completa perfeitamente esses pontos, já que é um conceito que representa forças opostas, mas complementares. Não há luz sem escuridão, e não há eu sem sombra.

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Vimos que “Lilili Yabbay” ansiava encontrar com um alguém, e “My I” não poderia ser mais clara quanto a quem é essa pessoa: nós mesmos.


Notas adicionais:

  • Visto que o nome do álbum é “TEEN’AGE”, a busca pelo eu faz ainda mais sentido, já que é nessa fase da vida que construímos as bases da nossa identidade.
  • Caso queiram ler mais sobre uma das melhores coreografias desse ano, o Toshio fez um post ótimo aqui.
  • O Seventeen também está transformando seus releases em uma narrativa (o que vejo muita gente chamar de “teorias loucas de fã”), e provando que a percepção de um lançamento (seja um single, álbum ou toda a atividade do grupo) como algo linear e projetado (assim como um filme, livro ou série) é uma tendência a ser vista cada vez mais no futuro. Mas né, assunto para outro post.

Referências:
Letra de “Lilili Yabbay” traduzida em português pelo Seventeen Brasil
Letra de “My I” do ColorCodedLyrics e traduzida livremente por mim
https://seventeentheories.tumblr.com/
https://en.wikipedia.org/wiki/Performance_art
https://en.wikipedia.org/wiki/Shadow_(psychology)
https://www.timeanddate.com/calendar/about-chinese.html
http://www.theworldofchinese.com/2014/03/the-meaning-of-flowers/

15 comentários em “Em Busca do Eu com Seventeen • Performance Team

  1. Aaaah, eu rasgei tanta seda pra My I e nem sabia que ela tinha uma prequel
    E eu amei a coreografia da prequel também
    Mas gente, essa narrativa está muito interessante
    Eu preciso acompanhar seventeen mais de perto

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  2. Meu deus. só a Tássia pra articular tão bem assim as histórias, amei como vc fundamenta tudo das letras, sensacional.
    Eu sabia sobre essa inspiração no ano novo lunar mas realmente vc tem muito mais propriedade pra falar ❤ .
    Eu acho bem desagradável esse papo de ''teoria louca de fã'' , até por que quem formula tudo é um ser humano, seres humanos pensam,tem influências e etc.E é muito mais interessante montar algo coerente para os fãs,algo bonito, do que só gravar numa sala branca passos de dança com umas luzes coloridas. É arte, captar o subjetivo, e não tentar entender por trás das coisas acho que é estar acostumado com a cultura de massa mesmo, não que k-pop não seja, obviamente tem muito fundamento nisso, mas em boa parte tem um tom artístico e reflexivo.

    Preciso nem falar que adorei né?! ❤

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    1. Afffff fico envergonhada assim ❤ tenho propriedade nada, é tudo Google 😂 mas obrigada querido ❤ ❤

      E sim, até parece que qualquer coisa sai do nada né 😂 mesmo que não tenha a intenção, tudo tem referências, se o autor percebeu e decidiu trabalhar com elas, aí sim é uma escolha, mas não quer dizer que não tem nada por trás. Além de tratar pejorativamente uma atividade só porque ela é feita por um demográfico que já é bem desrespeitado (adolescentes e meninas), mesma coisa com fanfic, fanart e provavelmente até covers, né?

      Não querer refletir sobre as coisas é um mal na minha opinião, por mais que kpop e entretenimento sejam distrações e diversões muitas vezes, não se questionar sobre isso é um perigo, na minha opinião. E acho bonito quando grupos fazem essas coisas e não subestimam a inteligência do público deles também. De certa forma é criar uma interação entre fã/grupo e explorar ainda mais esse mercado.

      Enfim, quase um post hahaha obrigada mais uma vez <3.

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  3. QUE INTERPRETAÇÕES INCRÍVEIS, TA!!!!!!!!!!! VOU PANFLETAR LA NA CARATLAND, OK? HAHAHA (vulgo grupo do fb Seventeen Brazil)

    E serio, Seventeen só prova ser um grupo melhor e mais relevante dentro do kpop a cada comeback! 2017 tinha q ser o ano deles e eles não tão deixando essa numerologia passar em branco, AMO!!!! ❤

    No próximo show deles VAMOS JUNTAS SIM!!!

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  4. Até o começo desse ano eu nem sabia quem era SEVENTEEN, e aquela “Closer corean version” não ajudou muito a crescer interesse…MAS QUE HINO ESSE AI DO PERFORMER TEAM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ESSES MANOS SÃO MARAVILHOSOS!!!!!!!! PLEDIS POR FAVOR NÃO FAZ MERDA!!!!!!!!!!!!!!!!!! NUNCA TE JULGUEI MAL!!!!!!!!!!! COREOGRAFIA ÉPICA!!!!!

    Post excelente como sempre Tássia ❤ vou reler até entende tudo, mas achei bem coesa a análise (como sempre ❤ ).

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  5. Minha mente explodiu quando eu vi a letra de My I na parte em que a letra parecia conversar uma com a outra: Eu vou te proteger/Você me protegia. Wow. Seventeen acerta muito quando quer. Amei sua análise, apontou muitas coisas que eu não havia notado.

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